14.4.16
Estaremos sempre diante da fragilidade e do efêmero do corpo, que comporta dor e medo; limitados por ameaças inexoráveis da natureza e padecendo das contradições das relações humanas.
Mas, a dimensão cultural pode oferecer a fruição da beleza estética, das formas e dos gestos humanos. Podemos construir os nomes da realidade pela cognição e passar do desejo à cooperação como uma união de força viva do ser. Assim, fazer e refazer o mundo tomando como fundamentos uma série de pensamentos, ações e intuições baseadas na singularidade individual e coletiva. Deixar os políticos e prestar atenção nos artistas e na imaginação de cada um: a arte é o que nomina a vontade de potência.
12.11.15
9.9.15
Desde que o mundo é arte
Nada mais se parece com ciência ou religião.
Mas os corvos continuam a voar.
Mostram-se agora como os criadores de tendências.
Multidespidos ao invés da negra pluma,
gorjeiam fininho a rapina capitalista.
São a um só voo tradição e ausência.
Osso e desprendimento carnal.
Mas aí o oco dói e o corvo pia: sou do século XXI.
26.5.15
12.2.15
sobe uma ESTRELA no céu
Quando saí do navio,
olhei para o céu e
senti cheiro de amarelo.
Ali, gostei do Brasil’
Tomie Ohtake. Artista Plástica.
*1914 - Kyoto. Japan.
+12/02/2015 - São Paulo. Brasil.
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11.2.15
10.2.15
22.1.15
7.1.15
21.12.14
Falo de ..
"... uma espécie de desconforto que sempre me fora conhecido: o de ser um sujeito jogado entre duas linguagens, uma expressiva, outra crítica; e dentro desta última, entre vários discursos da sociologia, da semiologia e da psicanálise, mas que pela insatisfação em que por fim me encontrava em relação tanto a uns quanto a outros, eu dava testemunho da única coisa segura que existia em mim - por mais ingênua que fosse: a resistência apaixonada a qualquer sistema redutor. Pois toda a vez que, tendo recorrido um pouco a algum, sentia uma linguagem adquirir consistência, e assim resvalar para a redução e a reprimenda, eu a abandonava tranquilamente e procurava em outra parte: punha-me a falar de outro modo. Mais valia, de uma vez por todas, transformar em razão minha declaração de singularidade e tentar fazer da "antiga soberania do eu" (Nietzsche) um princípio heurístico".
Roland Barthes. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p.18.
2.12.14
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
9.10.14
8.10.14
E. M. Cioran - Silogismos da amargura
Foto LP. Astrolábio na Rua Livi. SP 1998.
mestre?
"O sujeito consciente de si mesmo, "mestre de si e do universo", não deveria mais ser considerado como um mero caso particular - o de uma loucura normal. A ilusão consiste em crer que existe um sujeito, um sujeito único e autônomo, correspondendo a um indivíduo, quando o que está em jogo é sempre uma multidão de modos de subjetivação e de semiotização".
Felix Gautari.
em "O divã do pobre"
Assemblage: Sínteses Provisórias: Mito. Luiz Palma, 2010.
grito
É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
Carlos Drummond de Andrade: O enterrado vivo
Imagem: O Grito. Munch
21.9.14
19.9.14
Revelação*
*Rubem Alves
O evento da revelação, Otctavio Paz o descreve num parágrafo inesquecível de O arco e a lira:
O evento da revelação, Otctavio Paz o descreve num parágrafo inesquecível de O arco e a lira:
Às vezes, sem causa aparente - ou, como dizemos em espanhol, porque si - , vemos de verdade o mundo que nos rodeia. E essa visão é, a seu modo, uma espécie de teofania ou aparição, pois o mundo se revela para nós em suas dobras e abismos como Krishina diante de Ajurna. Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim; todas as tardes nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado, feito de tijolos e tempo urbano. De repente, num dia qualquer, a rua dá para outro mundo, o jardim acaba de nascer, o muro fatigado se cobre de signos. Nunca os tinhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim: tantos e esmagadoramente reais. Sua própria realidade compacta nos faz duvidar: são assim as coisas ou são de outro modo? Não, isto que estamos vendo pela primeira vez já havíamos visto antes. Em algum lugar, no qual nunca estivemos, já estavam o muro, a rua, o jardim. E à surpresa segue-se a nostalgia. Parece que nos recordamos e quereríamos voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhadas por uma luz antiquíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer. Nós também somos de lá. Um sopro nos golpeia a fronte. Estamos encantados, suspensos no meio da tarde imóvel. Adivinhamos que somos de outro mundo.
As cores do crespúsculo. A estética do envelhecer. Rubem Alves.
Campinas, SP: Papirus Editora, 2003. 4a Edição.
Pinturas: Luiz Palma. 2 telas sobrepostas da coleção Arvorejar, 2001.
Pinturas: Luiz Palma. 2 telas sobrepostas da coleção Arvorejar, 2001.
16.9.14
Ressonâncias
O
nosso apreço pela abordagem aberta reflete, além de tudo, um dado biográfico
recorrente, o de criar livremente colagens em um ateliê de arte transgredindo
campos estéticos e perímetros de conhecimento, com um olhar no horizonte e
sobre a palma da mão o astrolábio1. E por que não trazer para este
trabalho acadêmico a compreensão da colagem agora como analogia dos domínios
dadaístas sugerida por Deleuze2 como um estilo extemporâneo de
pensamento na filosofia?
1 Instrumento náutico antigo, em
forma esférica ou de círculo graduado, com haste móvel, usado para observar e
determinar a altura do Sol e das estrelas e medir a latitude e a longitude do
lugar onde se encontra o observador. Usado pelos gregos desde 200 a .C. Pela sua força
emblemática, o Astrolábio passou a nomear a partir de 1984 meu ateliê de artes
visuais em São Paulo (nota nossa).
2 Machado (2009, p.30) comenta
esta alusão à colagem como procedimento na filosofia deleuzeana: “Falar de
colagem a respeito do pensamento filosófico significa dizer que o texto
considerado é muitas vezes extraído do seu contexto, ou melhor, que os
conceitos – considerados como objetos de um encontro, como um aqui e agora, como
coisas em estado livre e selvagem – são utilizados como instrumentos, como
técnicas, como operadores, independentemente das inter-relações conceituais
próprias do sistema que pertencem”.
Ressonâncias do mal-estar contemporâneo: psicanálise, arte e política. Luiz Palma 2013. Doutorado. PUC/SP
Ressonâncias do mal-estar contemporâneo: psicanálise, arte e política. Luiz Palma 2013. Doutorado. PUC/SP
5.9.14
22.8.14
13.8.14
Poesia
Pois a poesia é assombro, admiração, como de um ser caído dos céus que toma plena consciência da sua queda, espantado com o que vê. Como alguém que conhecesse a alma das coisas e se esforçasse por recordar esse conhecimento, lembrando-se que não era assim que as conhecia, não com estas formas e nestas condições, mas não se lembrando de mais nada.
Fernando Pessoa. Trabalho literário entre nov/1905 e fev/1906.
Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal.
A Girafa Editora. São Paulo: 2006.
5.8.14
4.8.14
Ideia
"Ideia é o que permite às singularidades se organizarem como poder coletivo. Por isso, ela é o que dá sentido à noção de engajamento. Uma política sem ideia é a política sem transcendência, por isso incapaz de colocar para si o problema da revolução. Nesse sentido, ela será sempre incapaz de transformar nossa compreensão do mundo. A ideia é o que nos permite ser um pouco mais capazes de verdades."
Giuseppe Bianco e Vladimir Saflate.
Ilustríssima. FSP 6/7/2014.
22.7.14
Contingência - conceito no existencialismo sartreano
1. Caráter de tudo aquilo que é concebido como podendo ser ou não ser, ou ser algo diferente do que é.
2. Na filosofia existencialista, caráter daquilo que não possui, em si mesmo, sua própria razão de ser:
"o ser é sem razão. sem causa e sem necessidade; a própria definição do ser nos dá sua contingência original" (Sartre).
3. Acontecimento do qual não podemos reduzir o aparecimento a um feixe de causalidades; é um acontecimento, como uma emergência, de ocorrência possível mas incerta.
4. O homem é um ser contingente. E essa contingência pode estender-se a todo elemento do mundo real, pois nada neste mundo possui seu princípio de existência em si mesmo:
Editado do original em DICIONÁRIO BÁSICO DE FILOSOFIA. Hilton Japiassú, Danilo Marcondes. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 2001.
Colagem e foto: Luiz Palma, 2014.
2. Na filosofia existencialista, caráter daquilo que não possui, em si mesmo, sua própria razão de ser:
"o ser é sem razão. sem causa e sem necessidade; a própria definição do ser nos dá sua contingência original" (Sartre).
3. Acontecimento do qual não podemos reduzir o aparecimento a um feixe de causalidades; é um acontecimento, como uma emergência, de ocorrência possível mas incerta.
4. O homem é um ser contingente. E essa contingência pode estender-se a todo elemento do mundo real, pois nada neste mundo possui seu princípio de existência em si mesmo:
"O essencial é a contingência. Quero dizer que,
por definição, a existência não é necessária. Existir é ser-aí, simplesmente;
os existentes aparecem, se deixam encontrar, mas não podemos jamais
deduzi-los" (Sartre).
Editado do original em DICIONÁRIO BÁSICO DE FILOSOFIA. Hilton Japiassú, Danilo Marcondes. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 2001.
Colagem e foto: Luiz Palma, 2014.
21.7.14
17.7.14
1.7.14
- Você é longitude e latitude, um conjunto de velocidades e lentidões entre partículas não formadas, um conjunto de afetos não subjetivados.
- Você tem a individuação de um dia, de uma estação, de um ano, de uma vida, independentemente da duração; de um clima, de um vento, de uma neblina, de um enxame, de uma matilha - independentemente da regularidade.
- Ou pelo menos você pode tê-la, pode conseguí-la.
Detalhe colagem "De...cadência Política". Luiz Palma 2007