21.12.14

Falo de ..

"... uma espécie de desconforto que sempre me fora conhecido: o de ser um sujeito jogado entre duas linguagens, uma expressiva, outra crítica; e dentro desta última, entre vários discursos da sociologia, da semiologia e da psicanálise, mas que pela insatisfação em que por fim me encontrava em relação tanto a uns quanto a outros, eu dava testemunho da única coisa segura que existia em mim - por mais ingênua que fosse: a resistência apaixonada a qualquer sistema redutor. Pois toda a vez que, tendo recorrido um pouco a algum, sentia uma linguagem adquirir consistência, e assim resvalar para a redução e a reprimenda, eu a abandonava tranquilamente e procurava em outra parte: punha-me a falar de outro modo. Mais valia, de uma vez por todas, transformar em razão minha declaração de singularidade e tentar fazer da "antiga soberania do eu" (Nietzsche) um princípio heurístico".


Roland Barthes. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p.18.