22.9.07

Navegar, ainda é preciso. Brunoro em Brasília

Muitos são os destinos do marinheiro e navegar é sua vida, pensei no instante em que aceitei o desafio para fazer a apresentação de Antonio Brunoro Neto para a exposição “Navegar, ainda é preciso”. Inevitável Fernando Pessoa ecoou em mim – “Deus quer, o Homem sonha a obra nasce". E logo me vi a deduzir que o pintor e sua obra se enfeixam numa espécie de predestinação. A partir daí o pintor, o poeta e o título me levaram mar afora. Ou nos mares de mim. Conheci Brunoro no estertor do século passado – e aqui está o tempo, circular dimensão na metafísica dos pintores e artistas em geral, mais precisamente no ano de 1999 em São Paulo, quando fiz curadoria para sua primeira exposição no Astrolábio Ateliê, que chamamos Ir e vir nas cores. E daí outras iniciativas que se seguiram junto a uma amizade que floresceu. Fez em 2001, Terras da Minha Terra e no mesmo ano participou na coletiva Híbridos. Em 2002, seus trabalhos integraram em Sampa o espetáculo multimídia Flor da Paulicéia no Teatro Sergio Cardoso, que reuniu o grupo Astrolábio e bailarinas da Cooperativa Paulista de Dança. Em 2005 mostrou Peixes et Habitats e em 2006 apresentou a belíssima exposição “Nada...Flutua” . No primeiro semestre desse ano lá estiveram suas telas em negro e cores brunélicas para a coletiva anual do Astrolábio, tematizada “Luzes da Noite”. Conhecedor das artes mais sublimes Jorge Coli, ao dialogar com seus alunos sobre crítica, chama a atenção para a complexidade requerida para se captar os sinais que uma obra plástica emite “− depois que você aprendeu a fazer relações visuais que muitas vezes não são passíveis de serem traduzidas em palavras, aí sim é possível fazer uma análise”. Mestre, eu digo, fui além do olhar e ouvi Brunoro: “− pintar, ainda eu preciso”, sussurrando nas naturezas, nos objetos do cotidiano e nos peixes de suas telas, aquarelas e têmperas. Pois ainda a navegar, suas embarcações-pintura movem eterno convite ao devaneio. Os tons baixos e as pinceladas com o colorido alegre das frutas as identificam com o corpo e os cabelos de Dafne, primeiro amor de Apolo, a lembrar a sensualidade das ninfas e nos remeter às ilhas felizes, tal qual a fantasia de Camões sobre a Ilha dos Amores num mar acidental, numa geografia mítica. Paulista de Santo André, Brunoro vive há algum tempo em Brasília. Jovem pintor freqüentou os salões de arte contemporânea de Santo André e São Caetano e obteve prêmio na Bienal de Santos. Durante os anos setenta, em que cursou medicina na UNICAMP, “agitou” nas artes plásticas “do pedaço” e com certa periodicidade, até os dias atuais, tem exposto na Galeria Aquarela de Campinas. Em São Paulo, para além do circuito Astrolábio, participou em iniciativas do Instituto Itaú Cultural e do SESI Paulista e se mantém vinculado a outros planos da arte contemporânea. Com iconografia incomum, longe de ser apenas diferente, aqui está o pintor Brunoro, instigante navegante que dessa vez com seus pincéis nos liga a Camões, Pessoa e Caetano Veloso “... meu coração não contenta, o dia, o marco. O porto não. Navegar é preciso, viver não é preciso...”. Luiz Palma Astrolábio Ateliê. Rua Livi, 139 Vila Madalena. 05448-030. São Paulo. http://astrolabioatelie.blogspot.com

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