25.4.08

' É à experiência que nos dirigimos para que nos abra ao que não é "nós" ' (Merleau-Ponty)

detalhe pintura de Luiz Palma

"Quando invoca a experiência do pintor, ou do músico ou do escritor, para contrapô-las ao modo como a filosofia interpreta a experiência, Merleau-Ponty se demora naqueles instantes em que ver, ouvir ou falar-escrever atravessam a carapaça da cultura instituída e desnudam o originário de um mundo visível, sonoro e falante. A experiência é cisão que não separa - o pintor traz seu corpo para olhar o que não é ele, o músico traz seu corpo para ouvir o que ainda não tem som, o escritor traz a volubilidade de seu espírito para cercar aquilo que se diz sem ele - e é indivisão que não identifica - Cézane não é a Montanha Santa Vitória, Mozart não é a Flauta Mágica, Guimarães Rosa não é Diadorim. A experiência é o ponto máximo de proximidade e distância, de inerência e diferenciação, de unidade e pluralidade em que o Mesmo se faz Outro no interior de si mesmo".
Exertos de Merleau-Ponty: a obra fecunda.
A filosofia como interrogação interminável.
Marilena Chaui. pgs 44 a 53. Revista CULT n. 123