16.3.08

Tarsila Viajante na Pinacoteca - São Paulo

Fui ver Tarsila do Amaral no último dia da exposição - 16 de março de 2008 (será montada a seguir em outras capitais brasileiras). Foi legal ficar na fila porque assim pude olhar os detalhes e a grandeza do prédio da Pinacoteca que integra um conjunto formado pelos prédios da Estação e do Jardim da Luz no centro antigo de São Paulo. Tarsila Viajante mostrou mais de cem registros de viagem que a artista empreendeu pelo mundo principalmente na primeira metade do século XX. São sobretudo traços e desenhos produzidos durante os deslocamentos, a partir de observações das paisagens de janelas de trem e convés de navios pelo Mediterrâneo e outras paragens mais orientais. E ainda quarenta de suas pinturas, destacando-se dentre as mais conhecidas Abaporu e Operários e tantas outras obras afirmativas de um período, a rigor, ideológico do modernismo nas artes brasileiras.
Ao falar de Tarcila não posso deixar de anunciar que o Astrolábio Ateliê tem uma relíquia original de Tarsila. Trata-se de um texto seu de 1919 feito no caderno de recordações de Lucia Assumpção do Amaral, talvez durante um sarau promovido pela anfitriã, forma muito em voga da época de promover o encontro de artistas com paulistanos que cultivavam as belas artes. Tarsila escreve com maestria sobre "ser artista", obviamente com a ortografia original do idioma português daquele período, conforme se vê a seguir. Prometo que em breve mostrarei digitalizado para que possam ver sua belíssima caligrafia.
"Artista"
Ser artista é viver entre a vida real e o mysterio do Além. É, com infinda ternura, sorrir para a Belleza - emanação do Ideal, que no mundo interior refloresce e fulgura!

É enthesourar no coração a universal grandeza, e, com baldado esforço, ir à procura da crystallização da Idéa triumphal, num anseio febril que consola e tortura...

Ser artista é beijar do sacrificio a cruz e aos hombros carregá-la intimoratamente. É escalar o Calvário, onde a gloria reluz;

e, amando a propria dôr numa volupia estranha, é, sem treguas, luctar numa escala ascendente...

- é ser o grão de areia a escorar a montanha!

Tarsila do Amaral