31.7.13

Alma

A alma de uma época sem alma, o encanto de um mundo sem encanto, o retorno de um destino que nunca aconteceu. Marx, Durkheim e Weber não teriam feito o que fizeram sem desprezar a alma. Assim como não teria nascido a ideia de povos, línguas e épocas que também têm alma. Vê-se então como esta mania da alma torna-se outra coisa: espírito ou sujeito, indivíduo ou pessoa, consciência ou inconsciência, não é de agora, mas sempre se apresenta como se fosse. Não bastassem seus dramas próprios, ainda virá nosso Machado de Assis dizer que não temos uma alma, mas duas; e Guimarães a completar que ela é, no fundo, nonada. Matéria ou memória, dirá Bergson, a alma deve reencontrar sua própria experiência, reaprender a falar em nome próprio e assumir sua função, mesmo que sua função seja representar aquilo a que só damos valor quando perdemos.  Alma, esta cegueira da visão, ninguém mais dirá que seus olhos são como janelas e que as palavras (pharmakon) são teu veneno e tua cura. 

Christian Ingo Lenz Dunker . Exertos do texto "Jornada da Alma" 175, DOSSIÊ CULT