15.1.14

"Estava sozinho, os seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar as pessoas. Via-se metade ao espelho e achava demasiado breve, precipitado, como se as coisas lhe fugissem, a esconderem-se para evitar a sua companhia. Via-se no espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de silêncios como os precipícios ou poços fundos."


O filho de mil homens. Valter Hugo Mãe. São Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 11.
Tela: Iberê Camargo. Solidão.