20.6.13

Contemporâneo: Conferência de Marcuse - Universidade Livre de Berlim 1967

"É sabido que considero a oposição estudantil atual (movimento estudantil americano nos anos 60 em luta pelos direitos civis e liberdade) como um dos fatores decisivos no mundo; certamente não julgo como censura que me foi feita, seja ela, por si mesma, uma força revolucionária. ...é parte de uma oposição algo maior, denominada em geral de "nova esquerda". ...não é uma exceção de alguns pequenos grupos, ortodoxamente marxista ou socialista. Caracteriza-se por uma profunda desconfiança contra todas as ideologias (...) - ademais não está fixada na classe operária como classe revolucionária. Não pode, de modo geral, ser definida em termos de classe. É composta de intelectuais, de grupos do movimento pelos direitos civis e da juventude principalmente de elementos radicais da juventude que, a primeira vista, não parecem ter nada de político os chamados hippies, dos quais falarei mais tarde. (...) este movimento tem como porta-vozes não propriamente qualquer dos políticos tradicionais, mas outras figuras tão desprezadas, como poetas e escritores. ...essa circunstância é francamente um "pesadelo" para os "velhos marxistas", e a oposição aqui, evidentemente, nada tem a ver com a força revolucionária clássica no marxismo; um pesadelo, porém um pesadelo que corresponde à realidade. Creio que esta constelação de oposição a tal ponto não-ortodoxa é um reflexo fiel da sociedade de rendimento autoritário-democrática, da sociedade unidimensional, cuja característica principal é a integração da classe dominante em um terreno muito material, muito real, a saber, o terreno das necessidades dirigidas e satisfeitas que, por sua vez, reproduzem o capitalismo monopolista - uma consciência dirigida e oprimida."

In: Revista Civilização Brasileira. Set/Dez 1968. Ano IV, n. 21/22. 

Um ângulo para ler as ruas

"A História diz que uma revolução conquista "permanência", ou pelo menos alguma duração, enquanto o levante é "temporário". Nesse sentido, um levante é uma "experiência de pico" se comparada ao padrão "normal" de consciência e experiência. Como os festivais, os levantes não podem acontecer todos os dias - ou não seriam "extraordinários". Mas tais momentos de intensidade moldam e dão sentido a toda uma vida. O xamã retorna - uma pessoa não pode ficar no telhado para sempre - algo mudou, trocas e integrações ocorreram - foi feita uma diferença".


"Baderna TAZ - Zona Autônoma Temporária" - Hakim Bey. Conrad Editora do Brasil, 2004.(p. 16)