17.8.07

O ALEPH

Nesse instante gigantesco, vi milhões de atos agradáveis ou atrozes;
nenhum me assombrou mais do que o fato de
todos ocuparem o mesmo ponto,
sem superposição e
sem transparência.
(Jorge Luís Borges)
pintura de luiz palma

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Festim

Convivo com anjos e demônios
e circulo entre eles
até com uma certa elegância,
sentindo que tudo é a mesma coisa
contida em si,
em mim
e em ti...

Como a experimentar
ritual gosto da vida
em largas tragadas
em largos goles
em taças de vinho tinto
que derramo no canto da boca
bêbado

E então vejo tudo moldado,
montado, ligado,
como a máscara e o nariz,
o sorriso e a maldade.

E sinto que não estou nada poético:
Diria patético, arquétipo...

Mas tenho a verve e o lápis,
a língua e o gestual
e sinto queimar um ardente desejo
de fecundar o beiral do tempo
para não guardar para mim
a revelação do óbvio:
de que sou um resumo do oblívio...

Cada um guarda em si todas as dinastias,
todos os segredos,
todas as verdades
e todas as mentiras também,

Vivo nas sombras,
vivo das sombras
que cultivo
com meu corpo opaco
sempre de costas para a luz

Teço tramas,
intrigas
e ainda quero
todas as moedas
que puder juntar


Sou o filho dileto de todos os mitos,
sou celebrado em todos os ritos,
o resultado de todas as misturas,
dos quatro elementos,
do puro e do impuro

Sou a alquimia,
a mágica e o mago,
um relógio
a pulsar
e expulsar o tempo

sou vago ou profundo
conforme o momento,
conforme a leitura,
conforme o leitor,
conforme desejo.

Sou refém deste momento,
ao mesmo tempo doce e feroz
um livre docente,
um franco atirador,
com sorridente olhar de serpente,

Então
Decifra-me ou devoro-te
Decifra-me e devoro-te
Devoro-te de qualquer jeito !

Mas escondo-me e
por estas escuras lentes enxergo o que quero
Mas elas me contêm
fico preso em mim,
Com a visão embaçada pela velocidade do tempo.

Estou por trás dos olhos vendados,
Por dentro do vitral da íris
Escondido, calado, à espreita, feroz...

As lentes escondem minha alma,
Meus olhos são um espelho coberto,
Quem ousaria se refletir em minha retina
revelar o que há de terrível
Quem ousaria perturbar o silencio de minha alma ?
Atiçar as chamas infernais de meus pensamentos dormentes ?

Aqui estou eu,
A te observar por uma porta selada, lacrada,
Estou por trás dela,
Esperando uma fresta para escapar

E fazer um motim, um festim,
Ateando fogo ao barco que nos sustenta
No meio das águas revoltas de teus olhos claros.

=====
PS - Foi ótimo conhecer sua forma de arte. Essa figura me lembrou de uma poesia minha, onde me imaginava de costas para a luz, apenas vendo minhas piores sombras...

Um abraço, Eli Buchala (ebuchala@ig.com.br)
=====

25/8/07  

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