2.7.06

Sergio Cavalcanti de Albuquerque

Psicólogo das profundezas da alma e olhar socializador para o horizonte popular era avesso às marteladas ideológicas do tempo da ditadura e do pós-tudo em que viveu. De inteligência cortante e curiosidade incessante foi um adorável desconsertador de seus detratores e possivelmente de uma porção de admiradores. Um sedutor grandalhão, pardo de alma negra e sorriso de menino simplório, bebeu um mar de cachaça para segurar o rojão desta vida careta de salão pequeno-burguês que passou a frequentar a partir da USP, onde estudou e se credenciou para a psicologia do trabalho. Detestava o termo recursos humanos por entender que a expressão coisificava o ser em detrimento do sujeito singular. Iluminou a todos que com ele conviveu com um farol humanista que só ele sabia ligar. Mesmo nos seus dias de horror e fuga, em que mais de uma vez o encontrei em casa embalado pela nona sinfonia de Beethoven, fazia vazar um olhar de esperança e crença para os dias seguintes. Conviver com ele me deu alguns graus a mais como pessoa e como profissional. Salve Serjão! Grande Serjinho! O livro abaixo citado ( O Olhar) me deu o détraqué quando completei quarenta anos com a seguinte dedicatória "que o teu olhar incidente nestes convergentes olhares se faça luz e cor, mais luz e cor no teu sensivel olhar".
Alertado certa noite pelo nosso amigo Adão Hernandez de que o Sergio há dias não dava às caras, acompanhado de minha namorada fui até seu apartamento. Depois de muito bater e perceber que havia luz acesa achamos por bem buscar um chaveiro para entrar. Aberta a porta fui direto ao quarto e lá estava seu corpo frio na cama com o rádio de cabeceira ligado. Seu rosto era sereno e seus olhos fechados sugeriam o sono eterno do menino.

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